Na sexta-feira (5/12), Francisco, como prefere ser identificado, notou o semblante alvoroçado do neto, Kelvin Barros da Silva, assassino con...
Na sexta-feira (5/12), Francisco, como prefere ser identificado, notou o semblante alvoroçado do neto, Kelvin Barros da Silva, assassino confesso de Maria de Lourdes Freire. A volta antecipada para casa escondia o crime cometido poucas horas antes
- Leia também: Assassino de militar narra crime cometido dentro do quartel: "Peguei a faca e acertei ela"
“Estranhei, porque ele sempre entra me chamando de avô ou coroa. Nesse dia, entrou calado”, disse o avô. Não demorou muito para que dois colegas de farda de Kelvin batessem à porta dele. “Vamos, Kelvin, nós viemos te buscar”, falaram. Àquela altura, a notícia do crime corria pelos corredores do quartel. A mãe de Kelvin não estava em casa. Vendedora de uma loja de roupas, só soube do ocorrido no dia seguinte. Na manhã de sábado, policiais civis, militares e agentes do Exército fecharam a rua.
Frieza
Na rua onde nasceu e sempre viveu, vizinhos descrevem Kelvin como alguém avesso à convivência. Era tido como “isolado”. Um morador, que preferiu não se identificar, lembra que ele era o único que não se enturmava nas brincadeiras. “Ficava de longe, só olhando”, disse. Há cerca de um ano, Kelvin começou a namorar uma menina que mora na esquina. Segundo o avô, ele frequentava mais a casa dela do que a própria.
O Correio obteve acesso ao vídeo de parte do depoimento de Kelvin na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), logo após a prisão. De maneira calma, o soldado detalhou a dinâmica do assassinato. “Peguei a arma, virei para a parede, peguei a faca na bainha e acertei ela”, contou, acrescentando que a faca teria ficado cravada no pescoço da militar. Em seguida, relatou ter tido medo e tenta justificar o incêndio na Fanfarra. “Joguei álcool no chão e acendi o isqueiro”, complementa indicando que o álcool estava no banheiro.
Ainda em depoimento, Kelvin entrou em contradição ao menos cinco vezes. Inicialmente, negou qualquer participação no crime. Em seguida, relatou uma suposta intimidade sexual com a vítima. Depois, afirmou que Maria teria sofrido um surto psicótico. Na versão seguinte, disse ser alvo de assédio por parte dela. Por fim, declarou que a faca usada no feminicídio era de sua propriedade.
O advogado Alexandre Carvalho disse ao Correio que ratifica a tese de legítima defesa. De acordo com o criminalista, estão sendo juntadas provas para comprovar o relacionamento entre Kelvin e Maria. “Os atos secundários, do incêndio e da fuga com a arma, foram condutas de um jovem de 21 anos.”
A família de Maria trabalha com outra hipótese para a motivação do crime: o cargo ocupado pela vítima na Fanfarra. Segundo a advogada criminalista Leila Santiago, representante da família da vítima e assistente à acusação, a musicista desempenhava função acima da de Kelvin, o que teria o injuriado. Outra hipótese levantada pela defesa seria o fato de Kelvin ter tentado algum tipo de investida ou aproximação indevida, diferente do relatado por ele à polícia. “É possível que ele tenha recebido um “não” como resposta, uma vez que há comentários de que era um comportamento comum do Kelvin, algo coerente com a postura séria e focada da vítima, sempre dedicada aos estudos e às suas funções militares”, destacou.
O avô de Kelvin se diz incrédulo pelo crime cometido pelo neto. Ele se compadeceu com a família da vítima e desculpou-se. “Jamais imaginei que um menino que demonstrava ser tranquilo pudesse fazer isso. Confesso que ainda não acredito. Minha vida virou de cabeça para baixo. Se eu estou destruído, imagina a família dessa menina.”
Com informaçõesdo CB

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