Oitenta anos depois da queda do nazismo e do fim da Segunda Guerra Mundial, imagens parecidas atormentam, emudecem o coração e provocam ho...
Oitenta anos depois da queda do nazismo e do fim da Segunda Guerra Mundial, imagens parecidas atormentam, emudecem o coração e provocam horror
Oitenta anos depois da queda do nazismo e do fim da Segunda Guerra Mundial, imagens parecidas atormentam, emudecem o coração e provocam horror. Ainda mais quando são frutos de uma ação militar de Israel. No sábado passado, conversei com o fotógrafo Ahmed Al Arini, morador da Faixa de Gaza e autor da imagem que deve ganhar prêmios e se tornar símbolo das violações contra o povo palestino — o pequeno Muhammad Zakariya Al Matouq, de 1 ano e meio, transformado pela fome em um quase esqueleto: olhos profundos e perdidos, pele quase rasgada pelos ossos, as pernas finas e tomadas por feridas. "O mundo não se importa conosco", desabafou Al Arini.
Antes que me acusem de antissemita — virou tabu falar sobre o Holocausto e criticar Israel —, eu me baseio em fatos. Não é razoável culpar toda a desgraça que aflige o povo palestino ao Hamas. É óbvio que o grupo terrorista tem parcela de responsabilidade, mas quem impede a ajuda de inundar Gaza é Israel; quem sabota os planos da flotilha humanitária de levar mantimentos a Gaza é Israel; quem impõe um bloqueio descarado é Israel.
Um povo que enfrentou o extermínio nas mãos de um regime genocida não deveria compactuar com o que o seu governo faz. Um aliado que enche a boca para se denominar "terra das liberdades" não deveria concordar com a mais terrível prisão imposta a 2,1 milhões de pessoas: a fome. Em entrevista, o britânico Alex DeWaal — um dos maiores especialistas sobre o tema — me disse que a fome não apenas produz danos físicos a mentais. Ela destrói o tecido social. O objetivo de Benjamin Netanyahu é destruir a identidade e a coesão de um povo que tem direito sobre a terra e a um Estado soberano. É inadmissível que a comunidade internacional feche os olhos e não desafie Israel a colocar fim ao bloqueio e à guerra imoral.
Fico imaginando o que diriam as vítimas do Holocausto ao se depararem com imagens das crianças raquíticas, cadáveres ambulantes, como alertou a ONU. A humanidade deveria ter aprendido com o período de trevas para impedir o seu retorno. Aqui estamos: 80 anos depois, chorando por Al Matouq e pelas crianças da Faixa de Gaza dizimada pela fome.
Com informações do CB
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