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Memórias do Holocausto

  Oitenta anos depois da queda do nazismo e do fim da Segunda Guerra Mundial, imagens parecidas atormentam, emudecem o coração e provocam ho...

 


Oitenta anos depois da queda do nazismo e do fim da Segunda Guerra Mundial, imagens parecidas atormentam, emudecem o coração e provocam horror

Nos últimos anos, fiz algumas reportagens sobre o Holocausto. Entrevistei sobreviventes, marcados na pele e na alma, mesmo depois de oito décadas. Visitei o Yad Vashem, em Jerusalém. Um museu em memória das vítimas do genocídio nazista. Confesso que derramei lágrimas ao ser confrontado com tamanha maldade do ser humano. Nas conversas com quem conseguiu resistir ao horror, escutei histórias de medo, da convivência diária com a certeza da morte e de fome. Uma das que mais me chocaram foi contada por uma idosa. Quando criança, no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, ela e colegas do pavilhão onde eram mantidos lutaram por um pedaço de maçã boiando no esgoto. As imagens de pessoas em pele e ossos, vítimas de uma fome produzida pelo próprio homem, são cruéis, abjetas e repugnantes.

Oitenta anos depois da queda do nazismo e do fim da Segunda Guerra Mundial, imagens parecidas atormentam, emudecem o coração e provocam horror. Ainda mais quando são frutos de uma ação militar de Israel. No sábado passado, conversei com o fotógrafo Ahmed Al Arini, morador da Faixa de Gaza e autor da imagem que deve ganhar prêmios e se tornar símbolo das violações contra o povo palestino — o pequeno Muhammad Zakariya Al Matouq, de 1 ano e meio, transformado pela fome em um quase esqueleto: olhos profundos e perdidos, pele quase rasgada pelos ossos, as pernas finas e tomadas por feridas. "O mundo não se importa conosco", desabafou Al Arini.

Antes que me acusem de antissemita — virou tabu falar sobre o Holocausto e criticar Israel —, eu me baseio em fatos. Não é razoável culpar toda a desgraça que aflige o povo palestino ao Hamas. É óbvio que o grupo terrorista tem parcela de responsabilidade, mas quem impede a ajuda de inundar Gaza é Israel; quem sabota os planos da flotilha humanitária de levar mantimentos a Gaza é Israel; quem impõe um bloqueio descarado é Israel.

Um povo que enfrentou o extermínio nas mãos de um regime genocida não deveria compactuar com o que o seu governo faz. Um aliado que enche a boca para se denominar "terra das liberdades" não deveria concordar com a mais terrível prisão imposta a 2,1 milhões de pessoas: a fome. Em entrevista, o britânico Alex DeWaal — um dos maiores especialistas sobre o tema — me disse que a fome não apenas produz danos físicos a mentais. Ela destrói o tecido social. O objetivo de Benjamin Netanyahu é destruir a identidade e a coesão de um povo que tem direito sobre a terra e a um Estado soberano. É inadmissível que a comunidade internacional feche os olhos e não desafie Israel a colocar fim ao bloqueio e à guerra imoral.

Fico imaginando o que diriam as vítimas do Holocausto ao se depararem com imagens das crianças raquíticas, cadáveres ambulantes, como alertou a ONU. A humanidade deveria ter aprendido com o período de trevas para impedir o seu retorno. Aqui estamos: 80 anos depois, chorando por Al Matouq e pelas crianças da Faixa de Gaza dizimada pela fome.

Com informações do CB

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