Ao Correio, Verônica Oliveira conta que jovem tinha diagnótico de esquizofrenia e sonhava em ser domador de leões na África Em entrevista ...
Ao Correio, Verônica Oliveira conta que jovem tinha diagnótico de esquizofrenia e sonhava em ser domador de leões na África
Segundo a conselheira, que chegou a acompanhar o jovem desde os 10 anos, ele teve uma história de vida trágica. "Gerson era uma criança que sofreu todo tipo de violação de direito. Filho de uma mãe esquizofrênica, com avós também comprometidos na saúde mental, vivia numa pobreza extrema", conta.
Ainda muito novo, Gerson e os quatro irmãos foram destituídos da mãe e encaminhados para adoção. Todos foram adotados, menos ele. Segundo Oliveira, a justificativa da coordenadora da instituição foi de que "ninguém adotaria uma criança como ele". Na infância, depois de evadir o abrigo em que estava acolhido e ser encontrado sozinho em uma rodovia no interior da Paraíba, ele foi encaminhado pela PRF ao Conselho Tutelar.
Ao longo dos anos, sem diagnóstico ou laudo fechado, o jovem acumulou passagens pela polícia e foi preso por furtos, que começou a praticar ainda na infância. "Semana passada me procurou no Conselho porque havia saído do presídio e queria trabalhar, mas para isso precisava ter carteira de trabalho. Forneci as cópias, tiramos uma foto e dois dias depois, ao ligar a TV, vejo que Gerson havia jogado um paralelepípedo na viatura da PM", relata.
Além do diagnóstico de esquizofrenia, ele tinha um atraso cognitivo. "Tinha 19 anos, mas quando conversava, sua capacidade cognitiva acredito que não passava de 5 anos".
Ela conta que Gerson só se sentia seguro no Complexo Psiquiátrico do Juliano Moreira. "Ele pedia para morar lá, algo inusitado para um adolescente. [...] Ele teve 10 passagens na sócio-educação, e quando saia, fazia de tudo para voltar. Ele precisava se sentir seguro, e por algum motivo só se sentia seguro quando estava enjaulado", diz a conselheira.
"Só quem teve a oportunidade de conversar com um mínimo de humanidade com aquela então criança sabe que, apesar dos erros, que ele pagou todos, ele não tinha uma personalidade doentia. Ele tinha uma fragilidade imensa na saúde mental. [...] Se tivesse tido um acompanhamento regular e sério, não estaríamos hoje vivendo isso", completa.
De acordo com ela, o jovem sonhava em domar leões num safari na África, e chegou a entrar escondido no trem de pouso de pouso de um avião acreditando que seria levado para lá. Ele foi detectado e encaminhado ao Conselho Tutelar da região do aeroporto.
"Gerson é resultado de um sistema que o excluiu sempre, ele já estava enjaulado há anos. Hoje foi o desfecho de uma 'Crônica de uma Morte Anunciada'. Espero que a lição fique e que os inúmeros Gersons que atendemos todos os dias tenham um final mais feliz. Meu sentimento é de total impotência, e esse sentimento causa uma dor enorme na alma", lamenta Oliveira.
O caso
Na manhã deste domingo (30), Gerson de Melo subiu a estrutura lateral da jaula da leoa Leona, no Parque Zoobotânico Arruda Câmara. Por meio de uma árvore, ele conseguiu ter acesso ao interior da jaula, onde foi atacado e morto pelo animal.
O zoológico foi fechado e suspendeu as visitas após o ataque. A prefeitura de João Pessoa apura as circunstâncias do caso e manifestou solidariedade à família da vítima.
Com informações do CB

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