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CLDF debate mobilização dos homens pelo fim da violência contra a mulher

  No Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência Contra a Mulher, a Câmara Legislativa discutiu o tema em audiência pública...


 No Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência Contra a Mulher, a Câmara Legislativa discutiu o tema em audiência pública remota, na tarde desta segunda-feira (6), transmitida ao vivo pela TV Distrital (canal 9.3) e Youtube. O mediador do debate, deputado Leandro Grass (Rede), considera fundamental o engajamento masculino. “Os homens têm compromisso com a igualdade e a efetivação dos direitos das mulheres”, argumentou.

Ao elencar as formas de violência contra a mulher, como a física, psicológica, sexual, moral, patrimonial e simbólica, o parlamentar lembrou que o Brasil ocupa a 5ª posição no ranking mundial de feminicídio.
Para Grass, trata-se de “um fenômeno crônico, multifacetado, com raízes histórico-culturais muito profundas, permeado por questões étnico-raciais, de classe, território e de geração que precisa ser debatido com urgência”. 

Na avaliação da coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília (UnB), professora Valeska Maria Loyola, “a construção da masculinidade no nosso País está profundamente adoecida”, ao citar que são cometidos cerca de 180 estupros diários no Brasil.

No âmbito dos estudos sobre ideologia de gênero, ela explanou que “os gêneros são configurações de emocionalidades”, o que significa que os homens aprendem a sentir e a omitir de determinadas formas. “Os homens aprendem, desde muito cedo, a se embrutecer na relação com o próprio corpo e com os afetos, a não chorar e não demonstrar nenhum tipo de fragilidade”, explicou.  

A professora acrescentou que esse aprendizado sobre uma forma de masculinidade é fruto de processos histórico-culturais e precisa ser problematizado.
“O pilar central dessa masculinidade é a misoginia, cuja principal manifestação é a objetificação sexual”, afirmou Valeska Loyola, que defendeu a construção de projetos educativos, sobretudo nas escolas, a fim de criar outras possibilidades de masculinidades para os meninos, que vão além da questão da criminalização e da justiça. 

Nesta esfera, o representante do Núcleo Judiciário da Mulher do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), Marcos Francisco Souza, disse que os eixos de prevenção são voltados à capacitação de profissionais da rede, bem como à intervenção direta no sentido de romper a cultura patriarcal e misógina. “Para dar efetividade à Lei Maria da Penha não adianta só proteger as mulheres e punir os homens, é preciso romper com as relações desiguais entre meninos e meninas, e, também, com a masculinidade hegemônica”, afirmou Souza. Ele citou projetos educativos e preventivos que têm sido feitos nas escolas em trabalho conjunto entre o TJDFT e a Secretaria de Educação do DF. 

Por sua vez, a coordenadora de equipamentos da Secretaria da Mulher do DF, Edeuzane Steinmetz, informou que são realizados cerca de cinco mil atendimentos anuais nos Centros Especializados de Atendimento à Mulher e nos Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica.

Projetos educativos

Ao defender que as reflexões acerca da temática devam ser levadas para dentro da sala de aula, o professor de História do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 27 de Ceilândia, Carlos André Campos, se disse um “machista em desconstrução”. Idealizador do projeto Elas do Sol – Mulheres Inspiradoras da Quebrada, ele contou que a experiência propicia aos alunos a mobilização no enfrentamento da violência contra a mulher, ao valorizar as histórias de mulheres do Sol Nascente. 

Em linha tangente, o professor de Filosofia e Sociologia do Centro Educacional 6 de Ceilândia, Osvaldo Lima, afirmou que uma nova mentalidade é possível mediante o projeto rodas de conversa. 
Também das rodas de conversa nasceu o projeto Valorização das Mulheres e Combate ao Machismo nas Escolas, em Sobradinho II, segundo a professora Edvalda Santos. Ela contou que a proposta integra a rede de combate à violência contra a mulher e busca envolver a comunidade local.

No campo acadêmico, o mestrando da UnB, Victor Valadares, que pesquisa o tema “Homens Autores de Violência Doméstica contra as Mulheres e as Masculinidades”, disse que tanto os homens com alta escolaridade quanto os de baixa escolaridade cometem violências e abusos contra mulheres. “É necessário que os homens abram mão de privilégios”, acredita. 

Homens em Conexão

Membro do coletivo Homens em Conexão, Rafael Gonçalves narrou que a rede articula grupos de homens numa perspectiva terapêutica de outras formas de masculinidade. Já o idealizador do grupo Homens Essenciais, Lucas Amaral, chamou a atenção para o autocentramento que ensina os homens a se perceberem como donos das mulheres. Ele defendeu dinâmicas e espaços de reconstrução de padrões culturais de masculinidade. 

Mobilização

De acordo com a Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal, o dia 6 de dezembro foi instituído no Brasil como Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres (Lei 11.489/2007). A data remete ao evento ocorrido em 1989, em Montreal, (Canadá), quando Marc Lepine, de 25 anos, invadiu uma sala de aula da Escola Politécnica. Ele ordenou que os homens se retirassem e assassinou 14 mulheres.  

Lepine, que se suicidou em seguida, deixou uma carta justificando o ato, alegando que não suportava a ideia de ver mulheres estudando engenharia, um curso tradicionalmente masculino. O crime mobilizou a opinião pública, promoveu um debate sobre desigualdades entre homens e mulheres, e levou um grupo de homens canadenses a criar um movimento que hoje tem a missão de promover a igualdade de gênero e uma nova visão da masculinidade, proposta que se estendeu para outros países. 

Franci Moraes - Agência CLDF

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