A doação de leite materno é um ato que transforma vidas, especialmente de bebês prematuros e em UTIs. Na semana mundial dedicada ao tema, ...
A doação de leite materno é um ato que transforma vidas, especialmente de bebês prematuros e em UTIs. Na semana mundial dedicada ao tema, o Correio conversou com mães que participaram dessa rede de apoio que gera um profundo sentimento de gratidão e empatia
A advogada Pâmella Castro, 34 anos, fez parte dessa rede de apoio recentemente. Quando engravidou, ela já sabia: queria ser doadora de leite materno. Sensível às causas sociais e informada sobre a importância do aleitamento, especialmente para bebês prematuros e internados, a vontade se transformou em missão depois do nascimento da filha, Cecília Veloso de Castro, 3.
"Tive dificuldade na descida do leite. E minha filha precisou do banco de leite em um momento em que ele estava praticamente vazio. A escassez foi desesperadora. Aquilo me marcou. Quando o leite desceu de vez, em casa, decidi: se agora eu tenho em abundância, quero doar para outros bebês", relembra, emocionada.
Ela chegou a doar, em média, seis litros de leite por semana — o equivalente a 20 potes de 300ml. Ganhou reconhecimento pela Câmara dos Deputados e ficou conhecida como "megadoadora". "Em alguns momentos, doei mais leite do que todas as outras doadoras do banco juntas. Mas eu sempre digo: cada gota conta. Se cada uma puder doar um pouquinho, isso vira muito"
Amor e urgência
Entre especialistas, a avaliação é unânime: no silêncio das UTIs neonatais, onde cada batimento cardíaco é uma vitória, o leite materno faz a diferença entre a vida e a morte. É por isso que, segundo Ilana Marques, odontopediatra da IGM Odontologia, a doação de leite humano deve ser vista como um ato de amor — e de urgência. "A doação salva vidas, especialmente de bebês prematuros e de baixo peso. Cada mililitro doado pode ser crucial para o desenvolvimento e a recuperação de uma criança que ainda não pode mamar diretamente no seio", afirma.
A boa notícia é que o Distrito Federal conta com uma das redes mais bem estruturadas do país, com coleta domiciliar gratuita e orientação constante. "Toda mulher saudável, que esteja amamentando e com leite excedente, pode doar. O processo é muito facilitado no DF. O que falta, muitas vezes, é informação", explica. Para ela, campanhas como a Semana Mundial do Aleitamento Materno são essenciais para derrubar mitos e incentivar mais mães a se tornarem doadoras.
Mas engana-se quem pensa que os benefícios são apenas simbólicos, o consumo do leite materno é fundamental para fortalecer o sistema imunológico do bebê, proteger contra doenças, auxiliar no desenvolvimento neurológico e ainda previne anemia e obesidade infantil. Para a mãe, a amamentação acelera a recuperação no pós-parto, reduz riscos de depressão e aprofunda o vínculo emocional com o recém-nascido. "O leite materno contém substâncias que nenhum outro alimento possui. É insubstituível", afirma a pediatra e neonatologista Renata Vasques Palheta Avancini, professora do curso de Medicina do Centro Universitário Uniceplac.
Ainda assim, mitos persistem e podem comprometer o início e a continuidade da amamentação. A médica cita, por exemplo, a falsa crença de que o leite pode ser "fraco" ou "insuficiente". "Cada mãe produz exatamente o leite que o seu bebê precisa, completo em calorias, proteínas e vitaminas", destaca. Renata reforça que amamentar em público não deve ser motivo de constrangimento. "É um direito protegido por lei. Não pode haver vergonha em alimentar um bebê", defende a médica. Para ela, o papel da sociedade é acolher, respeitar e proteger esse ato tão natural e essencial.
Solidariedade
Quem recebeu um desses pequenos milagres foi a bibliotecária Isabela Medeiros, 37 anos, mãe de dois meninos. No nascimento do filho mais novo, Rafael, 3 meses, a moradora da Asa Norte conheceu de perto o valor da solidariedade materna. O bebê nasceu com hipoglicemia e, nos primeiros dias de vida, precisou ser complementado com leite humano vindo do banco de leite do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), referência no cuidado a recém-nascidos e parto humanizado. "Isso fez toda a diferença até que ele regulasse a glicose e conseguisse mamar só no meu peito", conta.
A emoção foi tanta, que Isabela não só recebeu, mas também doou. Durante a primeira gestação, quando a produção de leite foi abundante, ela conseguiu alimentar o próprio filho e reservar parte do leite para outros bebês. "Foram quatro meses de doação. Eu não sei para quem foi, mas sei que ajudei. E me sinto muito feliz por isso. Porque há mães que não conseguem amamentar por vários motivos. E ter essa alternativa é essencial, principalmente nos primeiros dias de vida", afirma.
Ter vivenciado os dois lados — como receptora e como doadora — deixou nela um sentimento profundo de gratidão e empatia. "Quando precisei, o banco estava ali, na porta ao lado. E quando pude, eu contribuí. É um ciclo. Não estamos sozinhas. Existe uma rede silenciosa de mães se ajudando", reflete.
Como coletar e doar
As mãe que têm interesse em doar podem fazer cadastro no Disque Saúde 160, opção 4, pelo site Amamenta Brasília, ou pelo Portal Cidadão do DF.
Coleta de leite materno:
- Procure tirar o leite em um lugar limpo e tranquilo da casa;
- Use potes de vidro com tampa plástica;
- Ferva os portes por 15 minutos e deixe que sequem sobre um pano limpo;
- Use uma touca ou lenço na cabeça;
- Coloque uma máscara sobre o nariz e a boca;
- Lave as mãos e os braços até o cotovelo com bastante água e sabão;
- Lave as mamas apenas com água;
- Seque as mamas e as mãos com um pano limpo;
- Massageie os seios com as pontas dos dedos, com movimentos circulares, e inicie a coleta diretamente no pote;
- Encha o pote até faltarem dois dedos para completá-lo e, caso seja necessário, recomece uma nova coleta em outro pote higienizado;
- Identifique o pote com seu nome e a data em que retirou o leite pela primeira vez. Para completar um pote que já está no congelador, faça a coleta em um copo de vidro e depois despeje no pote;
- O leite pode ficar até 10 dias no congelador ou freezer;
- Para agendar a coleta, faça o cadastro no Disque Saúde 160, opção 4, ou pelo site Amamenta Brasília ou pelo Portal Cidadão do DF (www.portalcidadao.df.gov.br) 14. O Corpo de Bombeiros buscará a doação em sua casa!
Fonte: Secretaria de Saúde
Com informações do CB
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