Mais de 230.000 pessoas, incluindo o presidente Lula, compareceram ao velório na Vila Belmiro; cortejo passou pela casa de dona Celeste, a...
Mais de 230.000 pessoas, incluindo o presidente Lula, compareceram ao velório na Vila Belmiro; cortejo passou pela casa de dona Celeste, a mãe do ex-jogador

SANTOS – “Viva o rei, viva Pelé.” O grito de um torcedor em frente à casa de dona Celeste, a mãe do Rei do Futebol, durante a passagem do cortejo fúnebre pelo Canal 6, foi um dos tantos momentos de singela emoção nesta terça-feira, 3, o dia em que a cidade do litoral paulista se despediu de Sua Majestade. O velório de Pelé na Vila Belmiro durou mais de 24 horas e nesta manhã contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o Santos FC, mais de 230.000 súditos foram ao estádio para se despedir do tricampeão mundial pela seleção brasileira. No início da tarde, o Atleta do Século XX, morto aos 82 anos em 29 de dezembro, vítima de câncer de cólon, foi sepultado no cemitério vertical Memorial Necrópole Ecumênica.
“Não tem ninguém comparável a Pelé em se tratando de jogador de futebol, de ser humano, e do comportamento, fino e educado que ele tinha. Ele foi muito para o Brasil, para a cidade de Santos, para o Santos, para São Paulo e para o mundo”, disse Lula, em depoimento à Santos TV, durante sua atribulada passagem pela Vila. O presidente abraçou a viúva, Márcia Aoki, que mais uma vez não conteve as lágrimas, assim como em boa parte do início do velório, ainda na segunda-feira.
Foram quase dois dias de uma singela emoção, quase silenciosa. Na Vila, o hino do Santos era intercalado, baixinho, por uma canção entoada pelo próprio Pelé. Os portões do estádio foram abertos pontualmente às 10h. Os primeiros fãs a entrar haviam dormido na calçada do estádio e se emocionaram ao ver o ídolo, ainda que relativamente distante, na tenda no centro do campo, à qual apenas pessoas próximas tinham acesso. Gilmar Mendes, ministro do Superior Tribunal Federal (STF), torcedor do Santos, inaugurou a presença de autoridades. Pouco depois, o suíço Gianni Infantino, presidente da Fifa, chegou acompanhado de Ednaldo Rodrigues, mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Infantino surpreendeu ao revelar uma proposta de homenagem. “Vamos pedir para que todos os países do mundo tenham pelo menos um estádio com o nome do Pelé para que as crianças saibam a importância dele. É um grande do futebol que nos emocionou.” Outra declaração impactante foi dada por netos de Pelé, Gabriel e Octávio Arantes do Nascimento, filhos de Sandra Regina, a filha que o ex-jogador reconheceu judicialmente antes da morte precoce dela, de câncer, em 2006.

Os jovens contaram ter se encontrado com Pelé e perdoado o avô, no hospital, dias antes de sua morte. “Conversamos, falei tudo para ele, o quanto o admirava como jogador e como pessoa. Ficamos com as mãos entrelaçadas orando, conversando… Foi um momento muito triste, mas muito importante para mim e para o meu irmão”, disse Gabriel. “Foi um momento difícil no hospital. Acredito que a gente conseguiu finalizar perdoando mesmo, esse é o legado que tem que ser deixado. O perdão e o amor vencem todas as coisas”, completou Octávio.
O filho mais famoso de Pelé, Edinho, ex-goleiro do Santos, também protagonizou cenas marcantes. Ele permaneceu ao lado do pai enquanto recebia outros convidados. Ao contrário do que se previa, e a pedido dos familiares, o caixão de Pelé estava aberto e os poucos convidados a terem acesso à tenda distribuíram beijos e toques carinhosos na lenda do esporte que sempre se notabilizou por atender a todos com enorme afeto.
No início, a imprensa europeia, presente em peso, especulava sobre a presença de três astros do PSG: Neymar, Lionel Messi e Kylian Mabppé. Nenhum dos três apareceu. O caso do brasileiro, formado no Santos, evidentemente chamou mais a atenção. Seu pai e empresário, Neymar da Silva, disse ter representado o filho, que teve de permanecer em Paris treinando pelo PSG. “Neymar não vem, mas o sentimento dele é de muita tristeza. Meu filho me pediu que o representasse, que estivesse aqui no lugar dele para trazer apoio à família”, disse o pai. A ausência de representantes do pentacampeonato da seleção, em 2002, e do tetra, em 1994 (com exceção de Mauro Silva, hoje dirigente da Federação Paulista), também causou surpresa.
Atletas da equipe profissional do Santos, como o venezuelano Soteldo, atual dono da camisa 10, e ex-jogadores como Zé Roberto, Narciso, Emerson Sheik, Paulo Roberto Falcão, Aranha, Marcelinho Carioca e Neto também compareceram e contaram histórias de seus encontros com o Atleta do Século. Os músicos Mano Brown e Supla, ilustres torcedores do Santos, também marcaram presença ao longo da noite de segunda.
Não houve efusivas lágrimas ou cantorias. O clima era de gratidão e orgulho pela história construída pelo mineiro de Três Corações que ganhou o mundo pelo Santos e pela seleção. “Até nisso ele foi maravilhoso, pois nos preparou para este momento. Ainda assim, quando chega a hora, é muito difícil. Ele foi meu irmão”, disse Manoel Maria, ex-jogador do Santos e apontado como o melhor amigo de Pelé. “Eu pude dizer a ele o quanto o amava e o quanto fui um privilegiado por ter jogado a seu lado e ser seu amigo”, completou Clodoaldo, campeão mundial com Pelé na Copa de 1970, no México.
Sob intenso calor, os fãs tiveram de aguardar no mínimo duas horas desde o fim da fila até a entrada no gramado. As filas que dobravam quarteirões não diminuíram com o cair da noite. Já na manhã de terça, a breve passagem de Lula causou alvoroço no entorno da Vila. Às 10h26, teve início o cortejo fúnebre que passou por toda a orla de Santos até chegar à casa de Dona Celeste, a mãe do rei, que recentemente completou 100 anos. Acamada, ela foi preservada pela família, e foi representada por sua filha, Maria Lúcia, irmã de Pelé, e outros parentes, que foram à sacada agradecer a multidão presente e assistir a passagem do carro de Bombeiros. Todos rezaram juntos e depois cantaram o seu amor a Pelé e ao Santos FC. O caixão de foi coberto com as bandeiras do Brasil e do clube alvinegro da Vila Belmiro.

O corpo de Pelé foi sepultado pouco antes das 15h. O filho Edinho fez questão de falar por todos os Arantes do Nascimento. “Eu só queria aproveitar em nome da minha família agradecer a todo mundo, todo o amor, todo carinho, todo o respeito. Enfim, agradecer. O sentimento maior de toda a família é gratidão. Junto com a dor, mas é de gratidão. Muito obrigado a todos, é um momento difícil, todos sabem. É difícil, mas é uma honra, um orgulho muito grande. Mais uma vez obrigado, agora ele vai descansar.” Ele se referia ao Edson, pois Pelé é eterno e incansável. Vida longa ao rei.
Acompanhe o fim do velório e o sepultamento de Pelé:
15h30 – O novo lar real
14h59 – Rei sepultado e discurso de Edinho
14h43 – Espaço reservado
14h22 – Momentos finais
14h16 – Fim do cortejo
13h56 – Corpo de Pelé chega ao cemitério
13h05 – Mais registros do adeus ao Rei
12h41 – Ausências
Velório de Pelé na Vila Belmiro termina sem a presença de pentacampeões de 2002. Leia mais.
12h37 – Emoção no Canal 6
12h36 – Cortejo de Pelé
11h36 – Momento de fé
11h26 – Simoninha
11h18 – Espera no cemitério
11h07 – Obrigado, Rei
10h52 – Em frente à casa da mãe
10h43 – Emoção dos fãs
10h41 – Momento simbólico
10h15 – Último adeus
10h11 – Multidão para se despedir
9h57 – Mais imagens da visita presidencial
9h56 – Lula e companhia deixam a Vila
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